Quase
um ano atrás, mais de 200 jovens perderam a vida num incêndio em uma boate em
Santa Maria, RS. Entre tantas histórias tristes e dramáticas, uma em especial
me chamou a atenção: a do estudante João Vitório Tavares, então com 19 anos.
Segundo ele, sua vida foi salva pelo pai. “Os guris já tinham me
ligado umas setes vezes para ir para a Kiss, já tinha até me arrumado, mas meu
pai trancou o pé na porta e não me deixou sair. Acabei dormindo e fui acordado
por várias ligações me perguntado se eu estava bem”, disse o estudante. Ele
perdeu ao menos três amigos na tragédia. “Poderia ter sido eu, era para eu
estar lá.” De certa forma, 2013 representa o ano em que João “nasceu de novo”.
Aquela poderia ter sido a última noite da vida dele, como foi para centenas de
outros jovens. Mas não, João continua vivo. Recebeu uma segunda chance de
continuar sua história. O que 2013 representou para você? E se, perdoe-me por
perguntar, você soubesse que 2014 fosse seu último ano de vida?
Na
Bíblia, encontramos a história de várias pessoas e o relato de seus começos,
meios e fins. Algumas começaram bem e terminaram mal. Outras começaram mal e
terminaram bem. Outras, ainda, começaram mal e terminaram mal. E algumas começaram
bem e terminaram bem. Enfim, pessoas que usaram seu livre-arbítrio para fazer
escolhas e tomar decisões que afetaram sua trajetória nesta vida e até mesmo
seu destino eterno.
Um
desses personagens é Saul. Ele começou bem. Quando de sua escolha para ser o
monarca de Israel, sentiu medo, incapacidade. Nas mãos de Deus, até profetizou.
Mas, com o tempo, a autossuficiência e o orgulho tomaram conta da vida dele.
Afastou-se do Senhor. Consultou uma feiticeira e acabou se suicidando (1Sm 31:1-6).
Começou bem, terminou mal.
Outro
que não soube aproveitar as oportunidades que Deus lhe concedeu foi Sansão, o
homem fisicamente mais forte da Terra, mas um dos mais fracos no aspecto moral.
Relacionou-se com prostitutas, tornou-se, assim como Saul, autossuficiente,
acabou preso, humilhado e com os olhos furados. Nos últimos momentos de sua
vida, clamou a Deus por restauração e foi misericordiosamente atendido (Jz 16:26-31).
Conforme Hebreus 11, a salvação de Sansão está garantida. Mas isso não muda o
fato de que a vida dele foi desperdiçada.
Diferentemente
dos exemplos anteriores, a vida do primeiro mártir cristão, Estevão, foi muito bem
aproveitada, já que foi dedicada a Deus. Estevão morreu exatamente como viveu:
vendo a face de Jesus (At 7:54-60). Igualmente, Moisés viveu em comunhão com
Deus (Êx 33:12-21) e terminou seus dias junto dAquele a quem tanto amou e
serviu (Dt 34:1-7).
O
que pode ser dito da sua história? O
que poderá ser dito dela quando você dormir para este mundo e de você restarem
apenas as lembranças na memória dos que ficaram?
Em
Romanos 6:2, o apóstolo Paulo pergunta: “Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” É realmente uma pergunta muito pertinente: Como
viveremos? Em grande medida, o fim de nossa vida depende de como a começamos e
de como é o “durante”. Se estamos vivos hoje e conscientes de nossa situação, o
começo já não importa tanto. Como terminaremos nossos dias não nos é permitido
saber. Assim, o que mais importa é a maneira como estamos vivendo agora. A respeito disso podemos fazer
alguma(s) coisa(s).
Stephen Smith e sua família aceitaram a mensagem
adventista em 1850, mas logo ele começou a ter ideias contrárias à Bíblia e, em
seguida, tornou-se altamente crítico dos líderes adventistas e de Ellen White. Smith
não aceitou as advertências da Sra. White, que haviam sido dadas a ela numa
visão sobre sua condição e seu triste futuro, a menos que ele tivesse uma
mudança de coração. Ele se recusou a abrir e ler o testemunho escrito por ela e
a carta permaneceu fechada no fundo de um baú por 28 anos – um período de
grande amargura para ele.
Em 1884, ele leu vários artigos escritos por
Ellen White e, em 1885, participou de algumas reuniões realizadas por Eugene
Farnsworth. Durante uma reunião, ele confessou os erros de sua vida para a
surpresa dos presentes que esperavam um discurso amargo. Voltando para casa,
ele abriu a carta de Ellen White e descobriu que sua vida tinha sido exatamente
o que ela disse que seria, se ele não voltasse para Deus. Em outra reunião, ele
fez a seguinte confissão: “Os testemunhos estão certos e eu estou errado.”
Alguém disse que “é melhor fazer a vontade de Deus contra a
minha vontade do que fazer a minha vontade contra a vontade de Deus”. O
estudante João Vitório Tavares, de Santa Maria, aprendeu isso
do modo mais difícil. Ele queria ir à boate, mas obedeceu à ordem negativa do
pai. Somos livres para escolher nosso caminho, mas não somos livres para dar as
costas para as consequências dessa escolha. Mesmo quando Deus “tranca o pé na
porta”, ainda podemos insistir e dizer “não”. Ele respeita nosso
livre-arbítrio. Com lágrimas nos olhos (como fez o pai do filho pródigo), Ele
diz: “Ok, filho, siga seu caminho, mas não se esqueça de que sempre estarei
aqui, de braços abertos, para recebê-lo.”
Quando
Deus nos pede para escolher sabiamente os lugares que decidimos frequentar, as
pessoas com quem vamos nos relacionar e os prazeres a que vamos nos entregar, Ele
faz isso porque sabe que lugares, pessoas e prazeres podem representar bênção
ou maldição; podem edificar ou destruir; podem refazer, recrear, santificar,
revigorar ou desfazer, poluir e escravizar.
Quero me valer das palavras de Paulo em Romanos
13:11-14 como um convite para uma nova vida em 2014: “Chegou a hora de vocês
despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que
quando cremos. A noite está quase acabando; o dia logo vem. Portanto,
deixemos de lado as obras das trevas e vistamos a armadura da luz. Comportemo-nos
com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em
imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Pelo
contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como
satisfazer os desejos da carne.”
Lembre-se
de que “as coisas mais importantes na vida não são coisas”, como escreveu
Anthony J. D’Angelo. Em 2014, invista no que realmente vale a pena: sua relação
com Deus, sua vida espiritual, sua família, seus amigos.
Como
viveremos em 2014? Depende de nós.
(Texto de Michelson Borges)