O termo resiliência migrou do mundo da Física para o comportamental.
Originalmente, traduz a capacidade de um corpo de se deformar por obra
de agentes externos e, depois, recuperar a forma natural.
Nos momentos adversos, vemos desabrochar em algumas pessoas um
impulso vital que permite a elas sobreviver a todo tipo de dor: luto,
abandono, negligência, violência. Essa força, chamada de resiliência,
faz com que não desistamos da luta, até o milagroso momento em que somos
transformados por ela.
“O papel da resiliência é desenvolver a capacidade humana de
enfrentar, vencer e sair fortalecido de situações adversas”, atesta a
psicóloga norteamericana Edith Henderson Grotberg (1918-2008), pioneira
nos estudos sobre o tema e autora de Resilience for Today: Gaining
Strenght from Adversity.
Débora Dalbosco Dell’Aglio, coordenadora do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(NEPA/UFRGS) e coautora do livro Resiliência e Psicologia Positiva:
Interfaces do Risco à Proteção (ed. Casa do Psicólogo), diz: “É como um
barco atingido pela tempestade em alto-mar, mas que continua navegando,
apesar das velas rasgadas e do casco deteriorado”.
Ser resiliente é unir forças
Mais do que uma capacidade individual, a resiliência é um processo
que se ativa dentro de nós de acordo com as necessidades impostas pela
vida. Todos dispõem dessa ferramenta. No entanto, ela costuma ser
favorecida ou não pelas características pessoais e ambientais de cada
um. “Se o indivíduo possui tendência a ser otimista, boa autoestima e
conta com uma rede de apoio, o processo de recuperação será mais fácil.
Já para os mais fechados e desprovidos de amigos e familiares, a
caminhada será mais penosa”, ela destaca.
Segundo Daniel H. Rodriguez, psiquiatra e psicanalista argentino,
colaborador da mesma obra, “É importante reservar um espaço para a
criatividade e a surpresa”. Ele se refere àquela chama interior que nos
surpreende com soluções e respostas nunca antes cogitadas.
Todas essas influências irão determinar o ângulo através do qual
enxergamos uma situação ruim, bem como o tipo de reação esboçada após o
choque. “Muitos daqueles que perderam suas casas em enchentes
conseguiram, apesar de tudo, se sensibilizar com os desdobramentos
positivos da desgraça, como, por exemplo, a manifestação da
solidariedade alheia, a formação de novos amigos”, revela Débora. De
fato, sem afeto, ninguém chega longe.
Dê adeus aos traumas
Cercar-se de ombros amigos ajuda e muito a aliviar a dor. Da mesma
forma, falar sobre o que passou e, de preferência, para um terapeuta, é
crucial se quisermos elaborar o ocorrido e seguir adiante. Por mais difícil que seja, temos de acionar a coragem e recontar em
detalhes a história que tanto nos machucou. “O objetivo da terapia é,
inicialmente, ajudá-lo a estruturar sua narrativa”, explica Julio Peres,
psicólogo clínico e doutor em neurociências e comportamento pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), autor do
livro Trauma e Superação (ed. Roca).
Com as ideias em ordem, o paciente racionaliza o episódio doloroso e
consegue se reencontrar. Eventualmente, há uma colheita de aspectos
proveitosos de uma situação inicialmente negativa.
Um dado surpreendente. Não só os acontecimentos avassaladores são
capazes de nos lançar numa fase sombria. De acordo com Julio,
ocorrências menos graves, porém, igualmente destrutivas, também são
consideradas traumáticas. Por isso, são chamadas de microtraumas.
“Esses eventos deixam resíduos que vão se acumulando com o passar do
tempo, prejudicando a qualidade de vida”, afirma o especialista.
Portanto, cuidado ao minimizar o potencial desastroso de certos hábitos e
padrões de comportamento, tais como ansiedade fora de controle,
sensação de solidão, compulsão por comida, compras ou jogo.
Renascendo das cinzas
Uma maneira de se fortalecer é resgatar a memória de autoeficácia.
“Quando alguém está fragilizado, tende a desprezar uma série de eventos
do passado em que venceu adversidades. Ao lembrar-se dessas vitórias,
passa a acreditar que também será capaz de superar o que o aflige hoje”,
atesta Julio.
Acionar as antenas e captar influências benéficas de pais,
familiares, professores, mestres espirituais, amigos, livros e filmes
também ajuda a impulsionar a virada. Portanto, da próxima vez que se
sentir desarmada diante de um baque inesperado, lembre-se de que o
fortalecimento interior é um aprendizado constante.
Viva de peito aberto. De preferência, sem jamais perder de vista o horizonte à nossa frente.
Fonte: Texto de para o site TweetKm
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